PNAIC - Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

AULA INAUGURAL - DATA: 09/04/13

 Palestra de Abertura do PNAIC 2013  pelo Professor Clecio Bunzen (UNIFESP/UFSCar)

" Leituras, textos e gêneros - os desafios da alfabetização no século XXI "

INICIANDO A CONVERSA



O professor Clécio Bunzen, responsável pelo Projeto Trilhas no estado de São Paulo, foi quem realizou a palestra de abertura do PNAIC 2013, para os educadores da Rede Municipal de Campinas - SP.


Iniciou com um bate papo informal e comentou que a cidade de Campinas, até àquela data, não tinha aderido o programa que inclui jogos e livros de literatura infantil para os primeiros anos. Ressaltou inclusive que a política pública do PNLD induziu, nos últimos 10 anos, e possibilitou que entrassem nas escolas, livros com mais textos de circulação social (menos cartilhescos) e propondo mais escrita para as crianças.
É justamente o outro, que nos faz cada vez mais humano, nos impele ao uso da leitura e escrita"
Ao encontro dessas ideias, tendo em vista o foco principal de sua palestra, o professor comentou que o conceito de gênero do discurso nos ajuda a pensar e produzir a circulação de gêneros. 
Para a pergunta: - Como se ensina? Temos muitas respostas.  
Mas, para a pergunta: - Como se aprende? É recente. A  fazemos por conta do desenvolvimento dos estudos da psicologia infantil. Precisamos ainda nos perguntar: - Como se aprende a oralidade? - Como se aprende o uso de parágrafos?... Estas perguntas exigem uma formação que não temos naquela recebida nas faculdades de pedagogia. Nenhum curso de Pedagogia dá conta dessas respostas. Há que se estudar uma amplidão de conhecimentos linguísticos e não só...

Professor Bunzen continua efetuando seus comentários, nos chamando para algumas reflexões sobre...
O que se vê no material do Pacto?
1. Trabalho sistemático com o SEA e o uso social de diversos textos.
2. A avaliação dos alunos nos ajuda na definição do planejamento.
    Como avaliamos? As hipóteses de escrita nos ajudam em um tipo de registro para uma questão a ser trabalhada com as crianças, que nos iludem... Vemos que as crianças avançam nas hipóteses e nos "sentindo tranquilas", pensando "eles estão crescendo..."  E como avaliamos a apropriação da pontuação? O desenvolvimento da oralidade? Qual registro para estas formas de avaliação?
3. A organização de diferentes modos de organização do trabalho pedagógico. Isto é sistematizar o ensino. Daí as sequências didáticas nos ajudam. Não podemos preencher  tempo e apresentar diversas atividades diferentes sem objetivos e diálogos  entre os  materiais.
4. Discutir a alfabetização como o processo e não como o produto.
Nesta discussão deixa claro a necessidade de trazermos as produções da Professora Ana Luiza Smolka, autora que quase não aparece, se é que aparece, nos materiais do Pacto. 

Concordo com o professor Clécio quando afirma que é fundamental conhecer o trabalho da Profª Ana  Luiza Smolka, uma vez que apresenta uma concepção diferente de alfabetização - como  processo discursivo. Para isso é só ler e conferir as experiências relatadas pela referida autora em seu livro intitulado: A criança na fase inicial da  escrita:  a alfabetização como processo discursivo (Smolka, 1993) 
Isto posto, observa-se então que existem concepções diferentes de alfabetização. Esta análise deve ser feita para sabermos de onde falam as autoras e  quais concepções estamos discutindo e porque esta e não àquela entre as que prevalecem no material do Pacto.
E quanto a cultura escrita: 



A escola deve constituir-se como uma comunidade aprendente, com uma comunidade de práticas: como produzimos junt@as materiais que circulem para além dos muros da escola?Como a cultura do impresso circula na escola?


Que usos fazemos do material impresso: dicionários, listas telefônicas, catálogos, gibis, revistas, jornais, cartazes, folders, enciclopédias (novas, com belas imagens!)...?
Como a cultura do manuscrito circula na escola? Cartas, bilhetes...
Como interagimos com a cibercultura na escola? Blogs, buscas na internet, envio  de emails... Há uma situação didática descrita no texto das diretrizes, p. 86. 
Vivemos hoje a “cultura do comentário”... isso chega na escola?...
 O processo de alfabetização se constitui em uma relação cultural, histórica e sociocognitiva com um sistema de escrita alfabética.
 
      
APROFUNDANDO O ASSUNTO

Com base na referida palestra, ao acionarmos o ícone CIBERCULTURA, palavras nos abraçam e levam a refletir sobre a tão "desejada" alfabetização digital, interativa enfim, um jeito de criar e movimentar e informações na era da globalização (se assim ainda posso chamá-la?)

"As pessoas estão se comunicando de um  jeito novo".

Está na hora da escola fazer o mesmo... Algumas instituições educacionais, arrisco a dizer, já estão começando a fazer diferente...

"Antes a internet era restrita às linhas discadas. Hoje é banda larga.
Antes as conexões eram com fios.Hoje são wireless.
Antes uma chat era perda de tempoHoje é prestação de serviço.
Antes a publicidade era incômoda. Hoje é divertida.
Antes os blogs eram só para adolescentes. Hoje são fontes de informação.
Antes a Internet era só no computador. Hoje é no celular,no videogame, na TV digital.
Antes possuíamos, hoje compartilhamos.
Antes éramos leitores, hoje somos participativos. 
Antes navegávamos, hoje mergulhamos ...TBUM em novidades... em redes sociais, em uma  agência nova, em blogs de informações e serviços, etc., etc."
                                                      (Texto reescrito com base na palestra acima referida)
           
Segundo Bunzen, cinco desafios para a escola:

Desafio 1Repensar o ensino dicotômico, tanto do ponto de vista da modalidade da língua (oral e  escrita) quanto dos eixos de ensino (leitura, produção, conhecimentos linguísticos), uma vez que a observação das práticas sociais de letramento mostram diferentes modos de participação dos sujeitos (crianças, jovens e adultos).
   
Desafio 2 Definir critérios claros e coerentes com os objetos de ensino que irão compor o currículo  do cotidiano das aulas de língua materna e de outras disciplinas:
 - práticas e eventos de letramento específicos;
 - gêneros do discurso;
 - capacidades de usos da lingua(gem): aspectos linguísticos, textuais e discursivos;
 - processo de apropriação do discurso e das vozes sociais.

Desafio 3  
Acreditar e mostrar para as crianças e jovens o papel central que a linguagem tem na construção dos sujeitos (das nossas identidades, dos nossos conhecimentos, da  compreensão com a vida e da relação com os outros). Desta forma, uma questão essencial é como abordar a língua e sua relação com as práticas sociais, uma vez que trabalhamos com práticas sociais que são permeadas pelas múltiplas linguagens, assim como por outros processos de significação.

Desafio 4 Nas práticas sociais do século XX e XXI, as modalidades orais e escritas da língua, convivem cada vez mais com outras semioses. Qual o papel do trabalho com as múltiplas liunguagens na escola, considerando o papel do próprio "corpo" - das imagens estáticas e em movimento, dos "sons" e outras relações que apontam para a sensibilidade e apreensão estética dos múltiplos significados. Essa questão torna-se cada vez mais importante para uma escola que se diz "democrática" e "inclusiva" ou seja, a  lógica grafocêntrica precisa ser repensada.

Desafio 5 As práticas escolares dialogam com algumas práticas sociais de forma harmônica, mas apresentam conflitos quando lidamos com práticas locais e situadas que não são valorizadas no currículo escolar.
Como construir um currículo que, ao mesmo tempo, não abandone os saberes e práticas que constituem a cultura escolar, abra espaço para outras práticas culturais que não fazem parte da "tradição escolar", seja do ponto de vista da língua em uso, das mídias analógicas e digitais, etc.

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